A TI ainda é vista como uma área de apoio?

Muitas vezes, quando se fala de ciência e tecnologia no conselho executivo das empresas, o tema é tratado de forma tímida e, geralmente, focado em questões de segurança e digitalização. Essa abordagem mais defensiva acaba deixando de lado as maiores oportunidades que surgem com as novas tendências tecnológicas.

Isso é ainda mais evidente em empresas que não nasceram no mundo digital. Hoje, a tecnologia está em toda parte, evolui rapidamente e muitas vezes surgem de lugares inesperados, como startups que constantemente desafiam o status quo. Em 2023, durante uma grande reunião em Palo Alto, diretores de empresas da Fortune 100 discutiram como as mudanças tecnológicas podem impactar seus negócios. A maioria dessas empresas formou comitês de tecnologia para acompanhar e se adaptar a essas transformações.

A importância dos comitês de tecnologia

Um exemplo interessante é o da AES Corporation. O Comitê de Inovação e Tecnologia da empresa, liderado por Tarun Khanna, trabalhou junto com a equipe de tecnologia para desenvolver sistemas de armazenamento de energia, ajudando a integrar melhor as energias renováveis à rede elétrica tradicional. Esse esforço levou à criação da Fluence Energy, uma empresa que hoje está listada na Nasdaq em parceria com a Siemens.

Na Johnson & Johnson, o Comitê de Ciência e Tecnologia, sob a liderança de Mary Beckerle, incentivou colaborações que resultaram em avanços significativos, como novas formas de diagnosticar e tratar tumores pulmonares. Ao combinar novas tecnologias de imagem com procedimentos minimamente invasivos, a empresa conseguiu criar soluções inovadoras para problemas complexos.

Esses exemplos mostram como os comitês de tecnologia podem ser fundamentais para que as empresas acompanhem o ritmo das mudanças tecnológicas. Ainda assim, o número de empresas que adotaram esses comitês ainda é relativamente baixo, especialmente quando consideramos o potencial dessas iniciativas.

A desconexão cultural nos conselhos

Um grande desafio que ainda persiste é a falta de conhecimento tecnológico entre os membros dos conselhos. Enquanto o CTO (Chief Technology Officer) precisa entender profundamente todos os aspectos do negócio, os outros membros do conselho muitas vezes não têm o mesmo nível de entendimento sobre conceitos tecnológicos básicos, como “API” ou “Governança Ágil”. Isso levanta uma questão: será que essa diferença de conhecimento é uma barreira cultural que precisa ser superada?

Dados da Associação Nacional de Diretores Corporativos mostram que a participação de conselhos da Fortune 100 com comitês de tecnologia aumentou de 7% para 36% na última década. No entanto, a realidade é que muitos conselhos ainda não possuem diretores com a expertise necessária em tecnologia. De acordo com a Equilar, apenas um terço dos conselhos públicos dos EUA têm diretores proficientes em questões relacionadas à tecnologia, um aumento significativo em relação à década passada, mas ainda aquém do necessário para enfrentar os desafios atuais.

A acelerada evolução da tecnologia

Não há dúvida de que a tecnologia está mudando rapidamente. Nos últimos anos, vimos o volume de dados de saúde crescer de 153 exabytes em 2013 para mais de 10.000 exabytes até 2025. O número de patentes de inteligência artificial nas ciências da vida também disparou, e o custo para sequenciar um genoma humano caiu drasticamente. Esses avanços oferecem oportunidades enormes, que vão além dos setores diretamente envolvidos.

A forma como a inovação acontece também está mudando. Empresas como a Altria estão adotando a inovação aberta, conectando-se a novas fontes de ideias para se manterem competitivas.

O papel dos comitês de tecnologia

Os comitês de tecnologia ajudam as empresas a identificar e priorizar tecnologias importantes. Eles precisam garantir que a empresa esteja buscando as melhores ideias científicas e tecnológicas, refinando constantemente o processo de avaliação dessas inovações. Também é importante que os comitês estejam dispostos a correr riscos, já que a inovação exige uma certa dose de experimentação e a aceitação de possíveis falhas.

Além disso, esses comitês têm um papel crucial em educar os outros membros do conselho sobre as oportunidades e os desafios tecnológicos, garantindo que todos estejam alinhados com a estratégia de inovação da empresa.

Conclusão: A TI como protagonista

A tecnologia e a inovação científica não são apenas áreas de suporte para as empresas; elas são o coração da estratégia competitiva moderna. A TI precisa ser reconhecida como uma força central para a inovação e a criação de valor. Para isso, é essencial que todos os membros dos conselhos se comprometam a entender e integrar a tecnologia em suas decisões estratégicas.

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